O Espaço Entre a Imagem e o Lar.

Eis que hoje eu fui buscar minhas primeiras fotos emolduradas na loja de artigos de arte aqui per’di casa. Eu já fotografo há tanto tempo, tantos anos e só agora, no auge dos meus 35 anos, em 2025 (!) eu realmente fui fazer o que já deveria ter feito há anos: imprimir e emoldurar minhas fotos! Bem, aqui cabe uma reflexão sobre algo que não é só a moldura…

Eu tenho explicações para não ter feito antes — não, não são desculpas. Ou talvez sejam. Na minha antiga casa (na casa dos meus pais onde cresci), nunca ligamos muito para a estética do “belo”. A casa precisava ser funcional, confortável. A beleza era algo secundário. Também não tínhamos muitos itens decorativos em casa, penso eu que pela rotina cansativa, meus pais que trabalhavam o dia todo para nos dar uma vida minimamente confortável e chegavam em casa apenas querendo uma comida quentinha e a companhia da família — eu, meu irmão e minha avó. No dia seguinte, tudo outra vez. E novamente. E de novo. Portanto, essa preocupação não existia.

Na nossa primeira casa em Franca — uma edícula de dois quartos, sala, cozinha e varanda — as paredes da sala eram rabiscadas com desenhos que eu e meu irmão fazíamos. Lembro de ter, talvez, um quadro pendurado na parede em algum momento (uma fotografia da minha mãe, que foi tirada pelo meu pai). Na área externa nós tínhamos um quintal grande com diversas árvores frutíferas (manga, banana, limão, acerola e muito mais). Recebíamos amigos, fazíamos churrasco, recebíamos visitas que dormiam na sala em colchões no chão ou em uma das duas beliches no quarto. Eu tenho maravilhosas lembranças dessa casa! Passava horas e horas naquele quintal que pra mim era gigantesco e não tenho nada a acrescentar a não ser que fomos extremamente felizes morando ali. Mas definitivamente, não havia muito estilo.

A casa precisa de estilo para ser aconchegante?

Eu sempre amei a minha casa (hoje, dos meus pais), e nas outras casas em que morei quando saí de Franca, o estilo também ficou em segundo plano. Quando eu visitava a casa de alguns amigos e via quadros na parede, abajures nos cômodos, plantas bem colocadas, estantes cheias de livros, eu achava muito lindo, carregado de histórias, chic! Sempre planejava algo no meu próprio canto e no fim, não executava nada.

Seja por falta de tempo, dinheiro, ansiedade, preocupações com outras coisas “mais importantes”. Morar sozinha, pagar aluguel, fazer dinheiro, comprar a comida dos gatos, a vassoura que quebrou, o colchão que tá dando dor nas costas, o sofá que infestou de pulgas… Apesar de não ter decorado as casas onde morei como gostaria, eu nunca senti que não fui feliz naqueles espaços. Apesar de, novamente, carregada pelo costume familiar, não dei atenção a algo que hoje eu vejo que traz uma personalidade e aconchego diferentes.

Ainda penso que o clima entre as pessoas que compartilham do mesmo espaço, as relações interpessoais, isso seja mais importante (do que adianta morar num lugar belo e ser infeliz?). Mas apreciar minha arte na parede — sim, arte! É difícil encarar assim às vezes — rodear o meu espaço com coisas que me transportam para outros lugares e carregam sentimentos bons, essa é a verdadeira definição de aconchego.

Catarina F. Saraiva

© Intentional Grain, 2025

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